segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Madureza

Quando meu senhor puxou-me os cabelos, tinha a aparência moribunda, roupa puída, cheiro de gente. Ergueu minha cabeça como colhesse uma fruta podre entre a folhagem e ordenou:
- Olha a vida, menina bonita! Repara nos tecidos de nenhuma cor que fiei para cobrir teu corpinho!
Meu mestre não viu que eu estava morta? E a trouxa de tecidos que me saía da boca?
Foi soltar a cabeça e começar a fuga de palavras de todo jeito, cheiro e sabor. Viscosas, ásperas, ácidas, ternas, notívagas, bêbadas, viris, esquálidas, palavras vivas. E aquela parte podre da fruta foi rolando pra longe de seu coturno, entre folhas e moscas, só curtindo o movimento.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Estilhaço

Linda, só se for qual o diabo.
Doce, só para encontrar a medida do áspero.
Você há de seguir meu rastro
Eu hei de deixar nele nenhuma pista.