terça-feira, 11 de janeiro de 2011

o demônio de pelos rizados

Nunca pensei que pudesse ser tão simples, sem ser superficial, nem tão claro, sem ser explícito. Eu chamava, ele vinha, atrasado e bonito em suas camisas de brechó. Delicado, só me comia depois de passar longo tempo acariciando meu corpo e dizendo as coisas mais fofinhas em meu ouvido. Falávamos pouco, fodíamos muito, sempre ouvindo música boa que ele me ensinava. A festa adrentrava a madrugada, eu rindo e rindo. De manhã, pulava ao som do despertador e, como tentasse passar o café, me ordenava a voltar pra cama. Mais beijinhos, mais fofuras, mais promessas sob a bruma de seu cigarro. Nos vemos quando? Eu perguntava, aflita. Terça ou quarta, ele respondia. Eu suspirava com a promessa de felicidade da próxima quinta. Eu queria mais de seu corpo, é verdade. Tinha amor para cada dia, este mesmo que agora de tudo me despista. Mas o tempo de sua ausência foi de todo aproveitado. Quando não vinha o meu demônio de pelos rizados, eu sonhava sua chegada e agora, que só chega a saudade, eu penso naquelas noites como as melhores de minha vida. Tenho mãos para afundar nos seus cabelos.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011