sexta-feira, 8 de maio de 2015

Tive sim...

Quem não teve um amor que parecia eterno? Pois eu tive, um não, mas alguns amores desse naipe, que permanecem na lembrança, no carinho, na amizade. O tempo, este deus que a tudo transforma com sabedoria, mudou os rumos das histórias e não posso dizer que os finais foram infelizes. Algumas relações realmente acabaram, mas outras ficaram mais firmes, mais livres e mais abertas. Pude me abrir para os novos amores, sem desprezar os antigos.

Recentemente, li na coluna de Miriam Goldenberg relatos de mulheres que se separaram e se arrependeram. Segundo a antropóloga, cerca das 5 mil mulheres que entrevistou ao longo de sua carreira relatavam este tipo de situação: o desejo de mudança, seguido da frustração e do arrependimento. Fiquei a pensar, qual mudança estas mulheres queriam? O fim do casamento, da parceria? Parece que não.

A maioria das pessoas que conheço tem muita dificuldade de reinventar suas relações quando está num casamento. Na impossibilidade de manter o padrão, o que a sociedade espera de um casal, parte para o extremo da situação, o rompimento. Eu pergunto: como poderia uma relação se manter estável se nós mesmos estamos em constante processo de transformação? Será que ao invés de se separarem estas pessoas tivessem optado por morar em casas separadas ou abrir a relação à chegada de outros amores, a história não tivesse um final mais feliz?

Socialmente é mais fácil ser uma pessoa separada do que uma pessoa não-monogâmica, ou não-convencional. Por quê? Trocando em miúdos, vivemos em sociedade extremamente controladora, que opera para que sigamos o padrão heteronormativo, que pratiquemos o sexo decente, sem sacudirmos nenhuma instituição. Quando rompemos com isto somos brindados com o título de perversos, na melhor das hipóteses, e devemos arcar com as conseqüências deste rótulo.

Quando as pessoas me perguntam sobre as dificuldades de viver um poliamor, digo que, para mim, é uma questão de escolha. Não existe relação mono ou poli sem problemas, frustrações e calundus. A questão é com quais calundus, frustrações e problemas se quer lidar.

A vida vem me mostrando que as relações livres são mais duradouras e mais honestas. O motivo é bem simples: ter um novo amor ou uma nova transa não significa o descarte do amor antigo. Posso viver começos, que têm sabor único, sem abrir mão do gosto maduro, conhecido e ainda desejado do percurso trilhado. Posso ver a estrada bifurcar sem medo de me perder. E se você me perguntar se a vida não-monogâmica é um mar de rosas, vou dizer que sim, com um ou outro espinho a me espertar a bunda. Mas, flores são flores!