terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A transexualidade pela ótica da Globo

No momento em que se fortalece a luta pela despatologização da transexualidade, a Rede Globo insiste em abordar o assunto pela ótica do distúrbio. Se por um lado oportuniza a fala de pessoas limadas do discurso acerca da sexualidade - aliás, autorizadas nos espaços da pornografia, da psiquiatria, da bizarrice - por outro, reforça a ideia de que há um sexo determinado pela genitália, ao qual algumas pessoas, doentes, só conseguem aceder por meio de uma intervenção médica.

Não existem dois sexos, mas N sexos, que podemos acessar nos inumeráveis arranjamentos, durante nossa vida*. Posso estar homem, mulher, fera, neste meu corpo. Posso impor todo tipo de violência ao meu corpo, segundo meus desejos, processos cujo significado e a importância só podem ser definidos por mim.

Qual a distância entre uma mulher que põe xoxota e uma mulher que põe peito? Entre o bombadão da academia e a transexual? Entre passar um batom e colocar um pau? É passada a hora de dizer "não ao sexo rei", como já disse nosso querido Foucault**.


* DELEUZE, Gilles. A interpretação dos enunciados, 1977, p. 80-103. Deux régimes de fous. Paris: Minuit, 2003.

** FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder, p 229-242. Rio de Janeiro: Graal, 1979.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Que vitiligo legal!

Quando cheguei ao Burburinho, no Recife Antigo, a menina me perguntou: "você que é a gatinha vitiligo?" Não, eu não era e nem sabia do que ela falava, até que Grilo, o compositor cantou para mim a música que fez para uma de suas musas. Então fiquei lisongeada com a confusão.

Durante muito tempo pensei no vitiligo como uma doença, até compreendê-lo como uma característica. Como qualquer coisa "diferente" desperta a atenção das pessoas e o desejo de normalização por parte de muitas delas. Quando alguém vinha me dar uma receita para "me curar", eu sucumbia, me irritava e me entristecia. Hoje, simplesmente me recuso a ouvir ou respondo algo que faça a pessoa cair na real. Outro dia uma mulher me perguntou "qual o problema com a pele?" e eu respondi, "com a sua pele não sei, a minha está ótima". Outra me disse que "deus podia me curar" e eu, "se isso fosse verdade ele tinha te curado da sua inconveniência".

Mas, além dessas pessoas nefastas e monocórdicas há outras que se amarram, que se inspiram num corpo multicor, como Grilowsky. Queria que todas as meninas que escondem suas "manchinhas" ouvissem esta singela canção.


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

ingenuidade do discurso

disse, "sei que isto pode parecer uma desculpa esfarrapada, mas este meu silêncio foi porque... " não sabia que tudo o quanto dissesse, até mesmo as desculpas esfarrapadas, me encantariam. a importância não estava no que dizia, mas no gesto de me querer dizer coisas, para me ter junto dele, uma vez mais.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Sexo, género y sexualidad en la encrucijada: Historias de construcciones sociales

Palestra realizada no espaço Medialab-Prado, em Madrid. O começo é um pouco chatinho, com apresentações dos presentes, mas vale a pena esperar pela palestra de Lucas Pratero e Davi Berná, excelente para quem se dedica a pensar o gênero e a sexualidade fora da perspectiva identitária.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

domingo, 6 de fevereiro de 2011

sonho de ano novo

meu ínico desejo para 2011 é viver num país menos machista. os meninos de Barcelona me fizeram lembrar como é gostoso ser tratada com respeito, carinho e admiração. les echo de menos, chicos!

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

mais presença

faz oito anos que não vejo meu amigo Nélio. faz quinze que penso nele todo santo dia. chega em tudo, sobretudo nas lembranças mais doces e se demora. meu índio, meu amor.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

presença

o corpo cruzou o mar, o mar cruza o pensar e te põe dentro, lá fundo de mim. entranhas atravessadas por tua presença, grãos cintilantes de desejo.