No momento em que se fortalece a luta pela despatologização da transexualidade, a Rede Globo insiste em abordar o assunto pela ótica do distúrbio. Se por um lado oportuniza a fala de pessoas limadas do discurso acerca da sexualidade - aliás, autorizadas nos espaços da pornografia, da psiquiatria, da bizarrice - por outro, reforça a ideia de que há um sexo determinado pela genitália, ao qual algumas pessoas, doentes, só conseguem aceder por meio de uma intervenção médica.
Não existem dois sexos, mas N sexos, que podemos acessar nos inumeráveis arranjamentos, durante nossa vida*. Posso estar homem, mulher, fera, neste meu corpo. Posso impor todo tipo de violência ao meu corpo, segundo meus desejos, processos cujo significado e a importância só podem ser definidos por mim.
Qual a distância entre uma mulher que põe xoxota e uma mulher que põe peito? Entre o bombadão da academia e a transexual? Entre passar um batom e colocar um pau? É passada a hora de dizer "não ao sexo rei", como já disse nosso querido Foucault**.
* DELEUZE, Gilles. A interpretação dos enunciados, 1977, p. 80-103. Deux régimes de fous. Paris: Minuit, 2003.
** FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder, p 229-242. Rio de Janeiro: Graal, 1979.
Entrevista para o podcast Urbanidades
Há 4 meses
2 comentários:
fiquei arvorada
idem, ibidem com cada letrinha que Hilan que me dedica.
Postar um comentário