quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Pau

Nem bem comecei a navegar, já me ensinou com quantos paus se faz uma mulher feliz.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

esquizovida

da não-monogamia a bovinocultura de leite, sigo sem perder poesia. é assim como odiar cigarro e me colocar radicalmente contra as leis anti-fumo. e mais, sonhar com tua respiração de cigarro dentro do meu nariz.

domingo, 21 de novembro de 2010

Outono em Barcelona

Éramos três fudidos em volta da mesa, inventando o almoço de domingo na sexta. No fogão, amor, manteiga e abobrinhas. Riso de nossas tragédias cotidianas, nosso sem rumo no mundo capitalista. Mar, onda, perfeita analogia para a cabeça de todo despistada. Poder caminhar de olhos fechados pela rambla e curtir o sol de outono na pálpebra, sustentado pela amizade. Da Catalunha a Andaluzia, todos os afetos me interessam.

sábado, 13 de novembro de 2010

Burrice bilíngue

isto de viver num país cujo idioma não domino faz com me sinta burra em duas línguas: a que não falo bem e a que falava bem até imergir nesta outra. quero dizer em português e os enunciados saem pateticamente castellanos, com todos os tus que não uso. tento falar em castellano e me afogo numa onda de se me te lo obtusos.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

solidão contente

isso de viver só nada tem de triste, só de um gosto de andar por labirintos na velocidade da luz. ninguém pode me acompanhar sem atrapalhar a brincadeira, sem se esfolar e sentir ódio da minha peraltice.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

De passagem

O que havia entre a gente era um lugar fora da nossa vida confusa. Um dia, uma noite juntos, era um tempo de caminhar no desconhecido, de flanar pela cidade em segredo, feito espectro atravessando coisas pesadas, saindo lindo do outro lado. A frequencia não era importante, era intenso, tanto, tanto, que eu ficava dias, cheia como um sapo só de lembrar de uma bobaginha que me disse. Hoje eu olhei pra nós, resolvendo coisas de ficar longe, para tentar ficar perto novamente e tive vontade de chorar.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Piada pronta

"Suicida-se a rainha coreana dos livros de auto-ajuda". Deu no jornal...

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

La inmigración

Das dez perguntas, cuja resposta memorizei, o menininho da imigração fez nenhuma. Interessou-se apenas em saber por que eu havia reservado um quarto com 8 camas, ao que respondi feliz: voy a compartir con otras personas. Gargalhamos e carimbou meu passaporte.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Desconhecimento contente

Não te deixes decifrar, não te quero devorar. Minha fome é de segredos. No negrume dos teus olhos é que me perco e no pôr do sol que eu mais me acho à vontade. Teu som mais bonito é este grito estridente em meu ouvido. O resto é blá blá blá.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

domingo, 5 de setembro de 2010

Ser diferente

Quando era criança minha tia dizia que se eu não tratasse do vitiligo, ia ficar muito feia e nenhum um homem ia querer namorar comigo. Eu respondia que só me interessava namorar com homens que gostassem de mim como eu era. Hoje ela se ri de minha astúcia aos 10 anos e de sua própria ignorância aos 30.

Hoje eu sei o quanto aprendi por esta diferença da pele, por este corpo que se auto-tatua, totalmente a revelia. Continuo pensando que quero namorar pessoas que gostem de mim como sou, mas isto já não tem mais nada a ver com vitiligo.

sábado, 4 de setembro de 2010

Manhã

Manhã
A vida parece o ofício
De enxaguar a terra
Secar feridas

Tarde
A luz diminuta
Firmo o passo
E acredito em mim
Acredito

Noite
Já estou certo
Que sobrevivo
Até amanhã, de manhã

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Hiper degradação humana

Que a TV se vale se mostrar seres humanos em situações degradantes para aumentar sua audiência não é novidade. Vide o desfile de cadáveres nas emissoras baianas na hora do almoço. Que o ser humano se submeta a situações cada vez mais degradantes por dinheiro, também não é novidade.

Ontem, consegui me chocar com o programa Hipertensão, da Rede Globo, apesar de todos estes precedentes. No velho modelo de competição que vai eliminando os concorrentes a cada episódio, a prova colocada para os “mais fracos”, aqueles que não conseguiram ter um bom desempenho numa das provas “radicais”, era tomar um coquetel que incluía bílis, sangue, vermes, gordura, fígado cru e outras nojeiras. A instrução da apresentadora era clara, “pode vomitar dentro do copo e continuar tomando, não pode vomitar fora”. Escapava da eliminação quem tomasse o coquetel de porcaria mais rápido.

Este tipo de concurso, que propõe a máxima humilhação da pessoa, em que homens e mulheres se sujeitam ao tratamento dos mais indignos por dinheiro, parece-me um bom retrato do capitalismo em nosso tempo. “A gente se vê por aqui”? Que medo!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Desconexo

Tenho um vendaval na cabeça e um torpor, tipo quando a gente bebe demais e cisma de fechar os olhos. O mundo vai girando, a gente quer que ele pare, mas o mundo é desobediente. Abrir os olhos ajuda, por alguns segundos. Depois a gente fecha e começa de novo.


Penso em te dedicar um poema, mas o que escolho parece desconexo para a resposta a tua carta. Pode uma resposta ser desconexa? Pode! As conexões pertencem aos sentimentos, coisa que a palavra vive a bulir e, não raro, tonteia, desmaia e cala, sem dizer o que queria.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Sol de Primavera

Caminho de Pedra Furada, Carolina (MA)

Quando entrar setembro
e a boa nova andar nos campos
Quero ver brotar o perdão
onde a gente plantou
Juntos outra vez
Já sonhamos juntos
semeando as canções no vento
Quero ver crescer nossa voz
no que falta sonhar

Já choramos muito
Muitos se perderam no caminho
Mesmo assim não custa inventar
uma nova canção
Que venha nos trazer
Sol de primavera
abre as janelas do meu peito
a lição sabemos de cor
só nos resta aprender...

Beto Guedes

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Saudades da capitar

Show de Skowa, na Aspicuelta, participação de Maurício Pereira. Sambas de Monsueto, a quase certeza da companhia de Luíza e o clima frenético de sedução da Vila.

domingo, 29 de agosto de 2010

Floripa, feminismo, amor e amizade


Minha relação com Santa Catarina sempre foi intensa. De luas cheias, mar, encontros inesperados, outros cuidadosamente agendados, gente linda que se inscreve em minha história, ali naquela terra. O encontro feminista, Fazendo Gênero 9, realizado em Florianópolis, de 23 a 26 de agosto, merece minha narrativa em primeira pessoa. É tudo verdade!

Cheguei ao congresso para apresentar um trabalho sobre heteronormatividade e não-monogamia, tema ao qual me entrego por amor e que me coloca, ironicamente, em absoluta solidão. Tecer palavras é ofício que se faz só.

Já na chegada em São Paulo, para uma conexão e um nascer de sol por detrás dos edifícios, encontrei Lu, do NEIM (Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher). Sob a luz laranja que invadiu o aeroporto de Congonhas, conversamos longamente sobre as relações afetivas neste século XXI. Em Floripa, mais mulheres, de todas as partes do mundo, e homens interessantes.

Uma placa na sessão de credenciamento, “INSCRIÇÕES ENCERRADAS”, dava conta das quase 5 mil pessoas que circulavam pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).

Eu estava nervosa com meu debut em congresso e, especialmente, neste congresso, que vim a saber, é o maior encontro feminista do mundo, informação que me deu a mineira Keila, professora da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto), que trabalha com o impacto da formação de professores para a diversidade sexual nas escolas.

Gostei de apresentar meu trabalho. Ouvi de três homens que participavam do simpósio temático, Novas Perspectivas sobre Direitos Humanos: reconfigurações teórico metodológicas, novos atores e processos no cenário internacional e perspectivas para o contexto brasileiro, comigo, que o tema não-monogamia era inquietante e que nunca haviam pensado nisto criticamente. O coordenador do ST disse que meu texto era primoroso e fiquei “faceira”, como dizem os gaúchos.

Depois da apresentação, celebrei. Encontrei Nanda, amiga das antigas, que eu não via há quatro anos, e senti aquele frescor de que só o amor é capaz. Parecia que o tempo tinha voltado e a gente estava rindo e se abraçando como antes, como sempre. Falamos da vida, das nossas relações e percebi, com um pouco mais de clareza, o quanto é importante, para mim, dedicar aos encontros amicais a mesma exclusividade que dedico aos encontros amorosos. Preciso deste espaço de troca, absolutamente íntimo e secreto, com meus amigos.

Na volta, lua cheia e a alegria de pisar em Salvador, terra onde cultivo minha revolução pessoal. Aquela expectativa gostosa de, um dia, voltar a Santa Catarina, o canto mais precioso do sul do Brasil e um palpite sobre minha pessoa: eu vim aqui para desorganizar.

Tigres marinhos

Ali onde as moças nadam entre tigres marinhos, Hilan atirou o retratinho de Jussara, enrolado em pano branco, feito patuá. Não queria esquecer as coisas que o coração gosta de lembrar, só devolver ao mar o presente que um dia recebeu.

sábado, 21 de agosto de 2010

Dez chamamentos ao amigo

VIII

De luas, desatino e aguaceiro
Todas as noites que não foram tuas.
Amigos e meninos de ternura

Intocado meu rosto-pensamento
Intocado meu corpo e tão mais triste
Sempre à procura do teu corpo exato.

Livra-me de ti. Que eu reconstrua
Meus pequenos amores. A ciência
De me deixar amar
Sem amargura. E que me dêem

Enorme incoerência
De desamar, amando. E te lembrando

- Fazedor de desgosto -
Que eu te esqueça.

Hilda Hilst

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Os imbecis são de toda parte

Numa última tentativa de conciliação, pediu a ela:

- Por favor, não tome nenhuma decisão antes de ler este livro.

- Homens são de marte, mulheres são de vênus... Auto-ajuda?

- Sei lá, isto não importa. Acho que vai ajudar na nossa comunicação.

- Ok!

Dois dias depois, naquela mesma mesa:

- Já terminou?

- Sim e foi muito esclarecedor.

- E então?

- Sou de marte, este livro é uma merda e quero o divórcio!

sábado, 7 de agosto de 2010

Ocaso

Quatro tentativas de ligar, uma de pular da janela do edifício, reflexões sobre o alcoolismo na meia idade, mais uma taça, sopa de capeletti, murros na porta, olhar fixo do bombeiro na lingerie, leite e a maledicência dos vizinhos.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Miniconto para um dia de chuva

Pés encharcados de chuva e o cansaço de mil carnavais, chegou em casa manhazinha. O talho no dedão esquerdo ganhou no Beco das Quebranças. Deslembrava como caiu na Sete, profusão de gente e lama. Deitou-se ao seu lado, corpo imundo com vontade de rugir, morrer, trepar, desaguada em choro na areia da Preguiça. Não acordou. Melhor. Suas ganas já eram de matar.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Para redação de emprego

Eu sou aquele cãozinho que ri e balança o rabo depois de mijar no seu sapato.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Ave, Engels!

"E se a estrita monogamia é o ápice da virtude, então a palma deve ser dada a tênia solitária, que em cada um dos seus cinquenta a duzentos anéis possui um aparelho feminino e masculino completo, e passa a vida inteira coabitando consigo mesma em cada um desses anéis reprodutores".

Friedrich Engels em A origem da família, da propriedade privada e dos Estado

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Dicionário heteronormativo

Exercício bom, ensinar o seu computador a ser queer. É impressionante como o bichinho não sabe nada fora do mundo heteronormativo. A função que eu mais uso no corretor ortográfico é "adicionar ao dicionário". Experimente aí, escrever poliamor para ver se ele identifica.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Mulheres com QI mais elevado são infiéis

Homens de QI elevado são monogâmicos, revelou a pesquisa de uma dessas universidades inglesas com nome de escarro. A matéria, exibida pelo Jornal Nacional associava (sem deixar claro se era uma opinião dos editores do telejornal ou dos pesquisadores) a monogamia à evolução da espécie humana e terminava com uma lamentação do jornalista sobre a atitude das mulheres, para quem a traição não seria questão de “inteligência, mas de vontade e oportunidade”, ao contrário dos sábios homens.

Mentira! O JN não revelou que a mesma pesquisa constatou que mulheres com QI elevado não são necessariamente monogâmicas e que a interpretação do pesquisador para evolução da espécie é a capacidade do ser humano de quebrar dogmas.

QIs a parte eu queria chamar a atenção para a intencionalidade dos discursos, dos pesquisadores e do Jornal Nacional. Primeiro, a pesquisa foi realizada dentro de uma escola de economia. Quer dizer que por trás da ligação QI/monogamia há uma questão econômica que não chega ao conhecimento do telespectador, mas permite localizá-la naquele campo de estudos que trata o sexo enquanto economicamente útil e delimita seu olhar por esta utilidade.

Segundo, a escolha da metodologia, a avaliação de QI, responde sobre as vozes reconhecidas pela pesquisa: pessoas cuja inteligência coincide com o conceito de inteligência dos pesquisadores. Sobre este assunto, gostaria de citar o filósofo Hilan Bensusan, para quem “as medidas de inteligência servem para que não precisemos prestar atenção no que todas as pessoas dizem – basta que escutemos as pessoas inteligentes; desde que, é claro, tenham dinheiro, prestígio e a cor de pele certa ”. Medir a inteligência pelo QI é descartar todas as inteligências que um ser humano possui e, neste caso específico, empobrecer o conhecimento sobre uma das maiores riquezas humanas: o amor.

Terceiro, o tom alegre da narrativa sobre a evolução da espécie, supostamente capitaneada pelos seres do sexo masculino, contrasta com o tom lamentoso sobre o comportamento das mulheres. Por que o título da matéria do JN não foi “mulheres com QI mais elevado são infiéis”?

sexta-feira, 5 de março de 2010

Avatar

A velha fórmula do macho branco estadunidense colonizador a salvar a pátria dos exóticos e ingênuos nativos. A heteronormatividade além mundos, a guerreira que ensina tudo ao macho, mas precisa dele para se sentir segura, o namorado ciumento que surta ao saber que o forasteiro acasalou com sua mulher. Cenas psicodélicas para uma odiosa caretice.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Aos que são da minha laia, saudações!

Ontem a não-monogamia botou os pés na academia. Sim, a rima é infame, mas a circunstância é nobre, porque não foi na faculdade de comunicação ou de psicologia, foi na Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia.
Ter a minha fala sobre amor livre autorizada num espaço de articulação de poder e saber foi uma conquista que eu quero compartilhar com todas as pessoas que amam, sem restrições.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Perolinha de Deleuze

A interpretação dos enunciados: não há dois sexos, há tantos sexos quanto arranjamentos. E como cada um de nós entra em muitos arranjamentos, cada um de nós tem n sexos. Quando a criança descobre que ela está reduzida a um sexo, macho ou fêmea, é aí que ela descobre sua impotência: ela perdeu o sentido maquínico e não tem mais do uma significação de utensílio. Então, efetivamente, a criança entra na depressão. Se a abismou, se lhe furtou os sexos inumeráveis!

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Dogmas de amantes

Prejuízo grande ao amor os dogmas que regem as relações amorosas. Como se todas as pessoas tivessem lido a cartilha Amar é... e tido sobre ela a mesma interpretação, um saber que habilitaria o despotismo, a normalização, o colocar o outro na linha só porque me ama e é por mim amado e nós sabemos que o amor é isso, é assim, pode crer.

Amor não é isso nem aquilo, amor é isso e aquilo. Esfinge avessa a devorar quem desvenda seu segredo.

Perolinha do Denilson Lopes

Sempre senti que, se tivesse eu uma alma, ela seria travesti. Não me pergunte por que, como. Eu só sinto que cada parte de mim transita por gêneros e desejos que cada vez menos consigo identificar.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Slogans para poliamor

Fiquei encantada com trabalho feito por Luís Miguel Viterbo. Produzidos originalmente para serem impressos em faixas e ditos durante as marchas LGBT em Lisboa, os slogans, pra lá de fofos, foram publicados no Poly Portugal.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Os ensinamentos do pôr do sol

De dia o sol de Salvador arrebenta em tanta luz que todo lugar pra onde se olha ganha um ar obsceno. Fim de tarde um quadro luminoso na parede da sala avisa que é hora do espetáculo. Coloco-me diante dele, o sol em sua hora madura. Gentil a retina, me ensina a fugacidade da beleza, a fugacidade da vida.

O mar, as nuvens, os navios, os barcos, as velas, o largo, tudo parece estar ali em disposição divina a este momento. Também eu que me coloquei na janela do quarto para receber a dádiva de assistir ao pôr do sol na Baía de Todos os Santos.

Hoje o sol escreveu com seus raios que amar é saber apreciar o etéreo.

Perolinha do Tom Zé

Senhor cidadão, com quantos quilos de medo se faz uma tradição?

sábado, 9 de janeiro de 2010

Aeroporto

Quando o Galeão já era uma lembrança triste, Horácio ainda recordava os dias de sol no Rio. O perfume de azeite de oliva da pequena cozinha onde preparava as pastas, do jeitinho que aprendeu no restaurante italiano, as folhinhas de manjericão escolhidas para decorar o prato da namorada. Grana curta, vinho barato, o mar azul de doer na retina. Uma felicidade que não cabia no peito.

Não sabia da conexão, não imaginava chegar este dia, em que o calor do Rio lhe daria tédio. Fora do aeroporto parecia que tudo ia derreter aos 37º C. Por dentro, a cruviana cortava-lhe os membros. O sorriso da namorada brilhava na memória, mudava de tom, desbotava e pontiagudo, feria. As vezes vinha acompanhado de seios, cabelos em diferentes medidas, feições confusas de tão imaginadas. Café, cigarro, revista, mais café, mais cigarro, o olhar rancoroso dos antitabagistas.

Desde que o Galeão se tornara uma lembrança triste, era a primeira vez que Horácio pisava naquela terra. Pensou que seria uma ocasião ótima para um infarto ou para um acidente aéreo. Morrer de um ou de outro seria de bom grado. Morte instantânea e indolor. Morte da memória, morte da saudade, morte. Depois desanuviou diante da possibilidade de, no caso da queda do avião, fazerem uma camiseta com sua foto escrito ‘justiça”! Não, nem, ninguém merece. Lógico que nenhum de seus amigos ia fazer esta sacanagem póstuma, mas e se ele caísse nas graças de umas dessas ONGs de classe média, hein? Não, ele não. Pensando bem esse papo de acidente aéreo não era tão legal.

Legal seria Marina embarcando no vôo só de calcinha, várias pessoas enfartando, a moral e os bons costumes paralisados diante de tamanha sensualidade e depois... Vamos ver, depois Marina sentando no seu pau, puxando a calcinha de ladinho, buscando espaço entre os bancos para apoiar as pernas, o pau entrando bem devagarinho no começo, depois o cavalgar em diversos ritmos, enquanto a galera bate punheta, começa a se bolinar. Era assim que ela gostava, com gente olhando ela gozar. Ficou de pau duro neste pensar.

Lembrou-se de um amigo que gostava de citar Valéry: “O mais profundo é a pele”. Bota pele para suportar tamanha verborragia depois da transa! Bota a pelezinha dele mais a de Marina. Ufa! Se ela não fosse tinhosa ele ia gostar mais deste pouso.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Perolinha do Nietzsche

Felicidade do casamento - Tudo o que é habitual tece a nossa volta uma rede de teias de aranha cada vez mais firme; e logo percebemos que os fios se tornaram cordas e que nós nos achamos no meio , como uma aranha que ali ficou presa e tem de se alimentar do próprio sangue. Eis porque o espírito livre odeia todos os hábitos e regras, tudo o que é duradouro e definitivo, eis porque sempre torna a romper, dolorosamente, a rede em torno de si; embora sofra, em consequência disso, feridas inúmeras, pequenas e grandes - pois esses fios ele tem que arrancar de si mesmo, de seu corpo, de sua alma. Ele tem que aprender a amar, ali onde até então odiava e, inversamente. Nada deve ser impossível para ele, nem mesmo semear dentes de dragão no campo em que fizera cornucópias de sua bondade. - A partir disso podemos julgar se ele é feito para felicidade do casamento.

Aforismo número 427, do livro Humano, demasiado humano.

Feliz 2010!

Este ano, para mim, será de mergulho na literatura. Comecei abrindo a facão as veredas do Rosa, lendo amorosamente Foucault e me embrenhando no Poly Portugal, um dos melhores blogs sobre poliamor que conheci.

Resolvi inaugurar uma sessão diária no Arvorada, chamada Perolinhas, na qual vou publicar diariamente pensamentos dos meus autores prediletos. Eu não poderia começar o ano com outro autor, senão Nietzsche.

Aos meus amigos, amores, leitores deste bloguinho eu desejo um maravilhoso 2010!

Que a liberdade, o respeito e o amor sejam o tom deste ano que encerra a primeira década do século XXI!