sábado, 9 de janeiro de 2010

Aeroporto

Quando o Galeão já era uma lembrança triste, Horácio ainda recordava os dias de sol no Rio. O perfume de azeite de oliva da pequena cozinha onde preparava as pastas, do jeitinho que aprendeu no restaurante italiano, as folhinhas de manjericão escolhidas para decorar o prato da namorada. Grana curta, vinho barato, o mar azul de doer na retina. Uma felicidade que não cabia no peito.

Não sabia da conexão, não imaginava chegar este dia, em que o calor do Rio lhe daria tédio. Fora do aeroporto parecia que tudo ia derreter aos 37º C. Por dentro, a cruviana cortava-lhe os membros. O sorriso da namorada brilhava na memória, mudava de tom, desbotava e pontiagudo, feria. As vezes vinha acompanhado de seios, cabelos em diferentes medidas, feições confusas de tão imaginadas. Café, cigarro, revista, mais café, mais cigarro, o olhar rancoroso dos antitabagistas.

Desde que o Galeão se tornara uma lembrança triste, era a primeira vez que Horácio pisava naquela terra. Pensou que seria uma ocasião ótima para um infarto ou para um acidente aéreo. Morrer de um ou de outro seria de bom grado. Morte instantânea e indolor. Morte da memória, morte da saudade, morte. Depois desanuviou diante da possibilidade de, no caso da queda do avião, fazerem uma camiseta com sua foto escrito ‘justiça”! Não, nem, ninguém merece. Lógico que nenhum de seus amigos ia fazer esta sacanagem póstuma, mas e se ele caísse nas graças de umas dessas ONGs de classe média, hein? Não, ele não. Pensando bem esse papo de acidente aéreo não era tão legal.

Legal seria Marina embarcando no vôo só de calcinha, várias pessoas enfartando, a moral e os bons costumes paralisados diante de tamanha sensualidade e depois... Vamos ver, depois Marina sentando no seu pau, puxando a calcinha de ladinho, buscando espaço entre os bancos para apoiar as pernas, o pau entrando bem devagarinho no começo, depois o cavalgar em diversos ritmos, enquanto a galera bate punheta, começa a se bolinar. Era assim que ela gostava, com gente olhando ela gozar. Ficou de pau duro neste pensar.

Lembrou-se de um amigo que gostava de citar Valéry: “O mais profundo é a pele”. Bota pele para suportar tamanha verborragia depois da transa! Bota a pelezinha dele mais a de Marina. Ufa! Se ela não fosse tinhosa ele ia gostar mais deste pouso.

Nenhum comentário: