sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Perolinha de Deleuze

A interpretação dos enunciados: não há dois sexos, há tantos sexos quanto arranjamentos. E como cada um de nós entra em muitos arranjamentos, cada um de nós tem n sexos. Quando a criança descobre que ela está reduzida a um sexo, macho ou fêmea, é aí que ela descobre sua impotência: ela perdeu o sentido maquínico e não tem mais do uma significação de utensílio. Então, efetivamente, a criança entra na depressão. Se a abismou, se lhe furtou os sexos inumeráveis!

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Dogmas de amantes

Prejuízo grande ao amor os dogmas que regem as relações amorosas. Como se todas as pessoas tivessem lido a cartilha Amar é... e tido sobre ela a mesma interpretação, um saber que habilitaria o despotismo, a normalização, o colocar o outro na linha só porque me ama e é por mim amado e nós sabemos que o amor é isso, é assim, pode crer.

Amor não é isso nem aquilo, amor é isso e aquilo. Esfinge avessa a devorar quem desvenda seu segredo.

Perolinha do Denilson Lopes

Sempre senti que, se tivesse eu uma alma, ela seria travesti. Não me pergunte por que, como. Eu só sinto que cada parte de mim transita por gêneros e desejos que cada vez menos consigo identificar.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Slogans para poliamor

Fiquei encantada com trabalho feito por Luís Miguel Viterbo. Produzidos originalmente para serem impressos em faixas e ditos durante as marchas LGBT em Lisboa, os slogans, pra lá de fofos, foram publicados no Poly Portugal.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Os ensinamentos do pôr do sol

De dia o sol de Salvador arrebenta em tanta luz que todo lugar pra onde se olha ganha um ar obsceno. Fim de tarde um quadro luminoso na parede da sala avisa que é hora do espetáculo. Coloco-me diante dele, o sol em sua hora madura. Gentil a retina, me ensina a fugacidade da beleza, a fugacidade da vida.

O mar, as nuvens, os navios, os barcos, as velas, o largo, tudo parece estar ali em disposição divina a este momento. Também eu que me coloquei na janela do quarto para receber a dádiva de assistir ao pôr do sol na Baía de Todos os Santos.

Hoje o sol escreveu com seus raios que amar é saber apreciar o etéreo.

Perolinha do Tom Zé

Senhor cidadão, com quantos quilos de medo se faz uma tradição?

sábado, 9 de janeiro de 2010

Aeroporto

Quando o Galeão já era uma lembrança triste, Horácio ainda recordava os dias de sol no Rio. O perfume de azeite de oliva da pequena cozinha onde preparava as pastas, do jeitinho que aprendeu no restaurante italiano, as folhinhas de manjericão escolhidas para decorar o prato da namorada. Grana curta, vinho barato, o mar azul de doer na retina. Uma felicidade que não cabia no peito.

Não sabia da conexão, não imaginava chegar este dia, em que o calor do Rio lhe daria tédio. Fora do aeroporto parecia que tudo ia derreter aos 37º C. Por dentro, a cruviana cortava-lhe os membros. O sorriso da namorada brilhava na memória, mudava de tom, desbotava e pontiagudo, feria. As vezes vinha acompanhado de seios, cabelos em diferentes medidas, feições confusas de tão imaginadas. Café, cigarro, revista, mais café, mais cigarro, o olhar rancoroso dos antitabagistas.

Desde que o Galeão se tornara uma lembrança triste, era a primeira vez que Horácio pisava naquela terra. Pensou que seria uma ocasião ótima para um infarto ou para um acidente aéreo. Morrer de um ou de outro seria de bom grado. Morte instantânea e indolor. Morte da memória, morte da saudade, morte. Depois desanuviou diante da possibilidade de, no caso da queda do avião, fazerem uma camiseta com sua foto escrito ‘justiça”! Não, nem, ninguém merece. Lógico que nenhum de seus amigos ia fazer esta sacanagem póstuma, mas e se ele caísse nas graças de umas dessas ONGs de classe média, hein? Não, ele não. Pensando bem esse papo de acidente aéreo não era tão legal.

Legal seria Marina embarcando no vôo só de calcinha, várias pessoas enfartando, a moral e os bons costumes paralisados diante de tamanha sensualidade e depois... Vamos ver, depois Marina sentando no seu pau, puxando a calcinha de ladinho, buscando espaço entre os bancos para apoiar as pernas, o pau entrando bem devagarinho no começo, depois o cavalgar em diversos ritmos, enquanto a galera bate punheta, começa a se bolinar. Era assim que ela gostava, com gente olhando ela gozar. Ficou de pau duro neste pensar.

Lembrou-se de um amigo que gostava de citar Valéry: “O mais profundo é a pele”. Bota pele para suportar tamanha verborragia depois da transa! Bota a pelezinha dele mais a de Marina. Ufa! Se ela não fosse tinhosa ele ia gostar mais deste pouso.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Perolinha do Nietzsche

Felicidade do casamento - Tudo o que é habitual tece a nossa volta uma rede de teias de aranha cada vez mais firme; e logo percebemos que os fios se tornaram cordas e que nós nos achamos no meio , como uma aranha que ali ficou presa e tem de se alimentar do próprio sangue. Eis porque o espírito livre odeia todos os hábitos e regras, tudo o que é duradouro e definitivo, eis porque sempre torna a romper, dolorosamente, a rede em torno de si; embora sofra, em consequência disso, feridas inúmeras, pequenas e grandes - pois esses fios ele tem que arrancar de si mesmo, de seu corpo, de sua alma. Ele tem que aprender a amar, ali onde até então odiava e, inversamente. Nada deve ser impossível para ele, nem mesmo semear dentes de dragão no campo em que fizera cornucópias de sua bondade. - A partir disso podemos julgar se ele é feito para felicidade do casamento.

Aforismo número 427, do livro Humano, demasiado humano.

Feliz 2010!

Este ano, para mim, será de mergulho na literatura. Comecei abrindo a facão as veredas do Rosa, lendo amorosamente Foucault e me embrenhando no Poly Portugal, um dos melhores blogs sobre poliamor que conheci.

Resolvi inaugurar uma sessão diária no Arvorada, chamada Perolinhas, na qual vou publicar diariamente pensamentos dos meus autores prediletos. Eu não poderia começar o ano com outro autor, senão Nietzsche.

Aos meus amigos, amores, leitores deste bloguinho eu desejo um maravilhoso 2010!

Que a liberdade, o respeito e o amor sejam o tom deste ano que encerra a primeira década do século XXI!