terça-feira, 1 de setembro de 2009

Bilhete anônimo

Era o casal mais astral da minha rua e tinham filhos pequenos que brincavam comigo. A crise bateu-lhes a porta e Sérgio, bancário desempregado, teve que trabalhar de motorista de ônibus. Foi nesta época que uma tia minha entrou na vida deles. Por duas vezes pegou a linha de Sérgio e notou que ele conversava muito com uma moça. Concluiu: é caso!
Um bilhete anônimo colocado embaixo da porta deveria ser a redenção da esposa traída e a garantia de um pouco de emoção a vida de minha tia, seca por um intriga fazia mais de dia. Isto foi numa quinta e Iara, a esposa, não foi vista até o sábado. Quando saiu do claustro foi direto a minha casa. Abatida disse logo a minha mãe, "vamos embora para Minas".
Minha mãe, por detestar fofoca, não dedurou minha tia. Limitou-se ao alerta,"Iara, você não vê que teu marido te ama? Todo o povo tem inveja da tua felicidade. Ô Iara..." Não adiantou. Domingo o caminhão encostou e partiram.
Um dia foram em casa visitar: os filhos crescidos, várias cidades mineiras no currículo e uma tintura loira no cabelo de Iara que não entendi até hoje.
Sérgio, calado como antes, terno como sempre.

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