quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Em busca do século XXI

Quando era criança, calculava com minhas amiguinhas quantos anos teríamos no ano 2000, o mundo ia acabar e tínhamos muito a fazer antes disso. Na adolescência eu já sabia que o ano 2000 não era o fim. Era sim o começo da era da liberdade, eu acreditava.

Meus amigos, bem mais velhos que eu, se casavam e, de repente, a gente não podia mais andar de mãos dadas ou ter o prazer de uma conversa a sós. Então, eu comecei a pensar que as relações abertas e confessionais eram a proposta revolucionária para o novo século.

Depois, aprendi que o termo "relação aberta" é tão careta quanto os que definem relações convencionais, pois partem também do princípio da concessão, como se um outro tivesse o direito de decidir o que podemos sentir.

Quase no fim da primeira década do novo século, artefatos como o cinto de castidade foram abolidos e nenhuma mulher precisa estender o lençol com o sangue de sua virgindade na janela. No século XXI o cadeado foi substituído pelas confissões que, quase sempre associadas ao discurso da confiança, servem ao controle, a alimentação do ciúme, a desconfiança sobre o silêncio do outro e ao desrespeito a privacidade.

Ouvi dizer que se a gente não conta (confessa) tudo sobre a nossa vida o outro cria expectativas falsas. E se a gente conta, o outro não cria expectativas? E se a gente muda, o que faz com as expectativas sinceras que o outro criou? Então será que amar é não mudar nunca?

As confissões não deixam marcas no corpo, nem causam infecções e são democraticamente partilhadas por homens e mulheres que, honestos, não tem nada a esconder. As vísceras estão na mesa, é só se servir.

No século XXI, os vínculos amorosos seriam libertários, as pessoas estariam juntas apenas por se amarem, eu sonhava. A monogamia continuaria sendo o que sempre foi: um estado da relação, impassível de controle por contrato. As pessoas poderiam amar um, dois, três. Os amantes, por amor, renunciariam a posse.

Mas uma onda de caretice varre o mundo. Os filhos dos hippies são contra a legalização das drogas e a favor da venda sem prescrição médica do Rivotril. Seu sonho, estabilidade no mercado de trabalho. E a marca do século XXI, as privatizações.

Privatizem homens, privatizem o quanto puderem. A liberdade e sonho não tem dono, nem são passíveis de negociação. É o que nos faz humanos.

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