segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Confessar por quê?

A história das confissões em nossa sociedade é uma história de controle. Obtidas pelos casais, geralmente sob nomes bem bonitos como transparência, honestidade, confiança e justificadas com outros também bonitos, como amor, cuidado, carinho, servem a um único senhor: o controle.

Quem cultiva a privacidade, o segredo, o cuidado com si próprio, o partilhar apenas o que quer partilhar com os outros é tratado com tchan tchan tchan... Desconfiança!

Ao compreender o embate de forças que se dá entre inquisidores e confessadores, adotei a política do não-confessional e, obviamente, alguns e algumas colocaram a minha não-confessionalidade no patamar da falsidade e da fraqueza em sustentar pontos de vista polêmicos, especialmente aqueles que tangem minha vida amorosa.

Tempos atrás me caiu no colo um conto de Oscar Wilde que dá um tratamento primoroso ao tema, “A esfinge sem segredo”. Nele é narrada a história de Lady Alroy, mulher misteriosa por quem se apaixona Lord Murchison. O interessante é como Lord Murchison vai construindo sua interpretação sobre os mistérios de Lady Alroy, numa trama paralela imaginária, repleta de sentidos negativos; e como a própria narrativa desconstrói os sentidos atribuídos aos segredos da moça.

Eu queria ter sutileza de Wilde, mas como não tenho cabe-me ser direta. Há uma contradição no discurso das confissões, especialmente quando vem associado do valor “confiança”. Confiar não é um valor que prescinde de confissões? É preciso dar conta de cada um dos nossos passos para que nossos parceiros e parceiras nos coloquem na conta de pessoas honestas e confiáveis? Se confia, é preciso ter controle? Se confessa, é sinal de sinceridade? O que vem depois da confissão? Um julgamento, uma penitência?

Desconstruir o binômio confissão-confiança, forjado com a única finalidade de controlar é sair da obscenidade para a delicadeza do mistério. Um desafio nestes tempos de alta tecnologia em vigilância.


Nenhum comentário: